Já conhecia de longa data a frase acima, mas há tempos não a ouvia. Entretanto, ao ler, outro dia, mais um dos inúmeros textos que me têm chegado, falando sobre tantas coisas que irão mudar depois da quarentena, não pude deixar de pensar nela. De fato, muita gente está fazendo um bravo trabalho de refletir sobre as mudanças que virão no ecossistema dos negócios, provocadas pelo coronavírus. É digno de nota e muito necessário todo esse exercício mental, e quase dá para ouvir, aqui do meu terraço, os estalos das sinapses dos milhões de cérebros produzindo ideias por aí!
A expressão “fecundidade do inesperado” revela algo que a sabedoria popular do brasileiro conhece muito bem: a tremenda capacidade que têm as situações inesperadas de gerar inovações: novas ideias, novas tecnologias, novos produtos, novos ângulos de visão sobre a realidade, novas oportunidades.
A expressão vem lá do século 19, tendo sido cunhada pelo anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), que fez certa vez esta afirmação:
“A fecundidade do inesperado excede em muito a prudência do estadista”.
Aparentemente, Proudhon queria dizer que ser prudente é salutar, porque leva a decisões ajuizadas; porém, as grandes, as magníficas decisões, irão mesmo acontecer quando o inesperado (um desses cisnes negros de que falou Nassim Taleb) se puser à nossa frente e não puder ser ignorado! Então nos mexeremos, de fato. E acabaremos indo navegar “por mares nunca dantes navegados”, para bem “além da Taprobana”, como sugeriu Camões, vendo, então, no que isso dá.
A expressão “fecundidade do inesperado” há muito tempo vem sendo usada em múltiplas situações, formais ou coloquiais. A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) gostava de citá-la. E, num discurso de formatura de uma nova turma do Itamaraty, o então ministro das Relações Exteriores Celso Lafer também citou a frase de Proudhon a propósito dos estonteantes atentados terroristas de 11 de setembro e seus desdobramentos: “A História nunca perdeu a capacidade de nos surpreender”, disse ele. “Só que, desta vez…!!!”
Pois, podemos retomar a frase de Lafer, agora a propósito da situação inusitada que estamos atravessando com esse Covid-19:
“A História nunca perdeu a capacidade de nos surpreender. Só que, desta vez…!”
nunca perdi a capacidade de me surpreender com seu intelecto.
Muito interessante seu artigo. A grandes tragédias como guerras, revoluções, etc., trouxeram soluções criativas e frequentemente mudanças tecnológicas mas nem sempre tão construtivas.
Infelizmente por enquanto estamos no meio do turbilhão e parece que as coisas ainda estão pouco claras. Com certeza o homem não ficará melhor depois do covid. Há pouco vi a fala de um filósofo brasileiro televisivo o Pondé, que acha que a humanidade já passou por tantos dramas e a essência humana não mudou muito. Durante a segunda guerra mundial e em sua continuidade com as ditaduras que se espalharam depois do nazismo, morreram mais de 50 milhões de pessoas.
Não sei se sou muito otimista em relação à situação brasileira especialmente considerando o Presidente psicopata que temos no poder e que a cada dia parece mais maligno e manipulador do que nunca mas feliz ou infelizmente muito burro. E pior ainda são os 30% da população que ainda o apoiam.
Não sairemos da pandemia melhores do que antes. O ser humano, sempre foi criativo, inovador e continuará sendo. Progressos obtidos em comunicações, em tecnologias, na medicina, na indústria farmacêutica e em outras foram verificados antes e ocorrerão após pandemia e pelos tempos afora, pois fazem parte da evolução, da inquietação do ser humano, do inconformismo com o status quo, da competição, etc. O inesperado obriga a um ajustamento, coisa que o elemento humano sempre soube e saberá fazer. Home office, delivery, homeschooling, webinars, etc. já existiam de há muito e serão agora aprimorados e intensificados. Administração da saúde terá que melhorar. Gentilezas, colaborações, solidariedade poderão ocorrer durante e após pandemia, mas por pouco tempo. Em seguida, o comportamento humano continuará sendo como dantes – imperfeito, pois perfeito só Deus.