“A duquesa de Malfi”, peça do século 17 de John Webster (contemporâneo de Shakespeare), foi filmada em 2014, quando reapresentada no Blackfriar’s Theatre, em Londres, palco de sua estreia em 1613. A filmagem foi apresentado em dezembro no canal de TV “Film & Arts”.

Em dado momento da história, Antonio, marido da duquesa, narra uma parábola sobre a Reputação, que merece nossa reflexão:


A Morte, o Amor e a Reputação decidiram separar-se e seguir cada qual seu caminho.

“Vou por ali”, disse a Morte. “E, se algum dia quiserem me ver de novo terão de percorrer lugares de guerra ou ambientes tomados pela peste, pois é onde, sem dúvida, me encontrarão.”

“Quanto a mim, vou por este outro caminho”, comentou o Amor. “Não vai ser fácil me reencontrarem, pois somente estarei em alguns ambientes rurais, bucólicos e não contaminados pelo ódio, no interior do país – ou, quem sabe, no seio de algumas famílias de membros silenciosos e leais entre si…”.

“Esperem!”, interrompeu a Reputação, atemorizada. “Não vão, não me deixem só!” E, ante o olhar perplexo dos outros dois, a Reputação completou: “Pois, se me abandonarem, uma vez que seja, é muito provável, muito mesmo, que jamais me acharão de novo!”


A Reputação seria assim – uma vez perdida, não mais será recobrada? Bem, ao menos ela era assim nos tempos de Shakespeare e Webster! Mas não acho que ainda o seja. Penso que atualmente pode-se recuperar a Reputação perdida fazendo uso de alguns expedientes que, à época em que John Webster lançou sua peça, não estavam disponíveis.

Um desses expedientes é martelar e martelar para a opinião pública que tudo que foi dito sobre nós, e que fez desabar nossa Reputação, não passa de injúria, de sórdida mentira que nossos inimigos assacaram contra nossa serena pessoa (alguns advogados muito hábeis sabem como usar esse método). Outro expediente excelente (a ser empregado em conjugação com o primeiro) consiste em criar uma narrativa inteligente descrevendo o que fizemos de errado como sendo bom, honesto e contributivo, enquanto o que fizeram os que nos atacam é, ao contrário, tachado de malévolo e desonesto. E pronto! Há décadas Goebbels nos ensinou que essas estratégias, insistentemente repisadas, são mais do que suficientes!


A Morte, o Amor e a Reputação eram, nos tempos de “A Duquesa de Malfi”, as três grandes angústias do ser humano. Atualmente, a Morte continua sendo. Quanto ao Amor, dá-se um jeito. Quanto à Reputação, entretanto, esta já perdeu totalmente sua… reputação de então! Foi substituída pelo Dinheiro (este, sim, a Grande Angústia de hoje).